terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Memórias de um garoto de Mississipi



E minha namorada desmaiou em meus braços, eu não sabia o que ela tinha, mas estava claro que ela estava muito doente, tentei não dar bola para aquilo e segui viajem.  Depois de algumas horas tudo ficou muito mais claro: Ela morreria.  Olhei para ela por alguns instantes, há minha doce Anne, seria uma pena vê-la em um caixão, pois mesmo agora doente  e aterradoramente frágil, ela continuava sendo de uma beleza estonteante.  Por fim chegamos a um hotel na beira da estrada, eu a deitei naquela cama fétida e miserável que só um hotel de beira de estrada poderia oferecer e a observei dormir, a respiração dela era regular e eu me lembrei de momentos  há muito tempo esquecidos, de quando éramos crianças e brincávamos em nossos quintais no estado do Mississipi, eu queria dizer à ela que depois de todos esses anos eu havia finalmente descoberto o  que eu sentia por ela , e essa descoberta fora inerte e sem ar naquele quarto frio de hotel. Ela continuava lá com seu sono irregular, parecia estar sonhando com alguma coisa, eu ainda me lembrava de como havia conhecido ela, no primeiro segundo que a vi fiquei intrigado com aqueles grandes olhos que pareciam duas pérolas negras, eu apenas não entendo como ela tinha se apaixonado por algo tão horrendo que era a minha existência, pois mesmo naquela época muitas a queriam; Eu costumava chamá-la de lábios de chocolate, lembro-me também do meu primeiro beijo, fora num verão embaixo de uma arvore que eu já não lembro o nome, ambos tínhamos treze anos e a sensação de tocar aqueles lábios frescos pela primeira vez foi tão espetacular que eu voltei para casa tremendo e fiquei extasiado por dias.
Ficamos no mesmo hotel semanas e semanas, algumas vezes ela acordava e pedia por água, mas na maioria do tempo o sono dela era tão profundo que eu temia que ela morresse sem eu perceber, durante anos ela se jogara em meus braços jurando amor eterno, e naqueles momentos eu apenas não sabia o que dizer, pobre Anne como ela devia ter sofrido por aquilo, e mesmo depois de tanta indiferença o sorriso dela ainda era alegre e esperançoso como se ela soubesse que algum dia eu diria algumas palavras de conforto. Na noite de inverno em frente a lareira eu a desejava tanto, cada parte do corpo dela era  pra mim um lugar misterioso e mágico e eu queria explorá-lo dia após dia. Mas agora ela estava deitada imóvel naquela cama, eu passava o tempo a olhando e rezando para ela melhorar, porque eu ela sempre fomos a igreja e eu não admitiria que Deus me abandonasse naquela hora.
Numa noite sai pra fumar, habito que ela havia insistido para que eu largasse, quando voltei ao quarto a encontrei sentada na cama quente e sólida, como se nunca tivesse estado doente, eu caminhei até ela devagar com lagrimas nos olhos, nas mãos ela tinha uma das peças de Shakespeare, eu sabia que ela o adorava. Eu te amo Anne, eu disse bem baixinho  e ela me olhou como seu eu tivesse dito aquilo a vida toda, quase sem voz ela me disse : Eu também te amo.
Nessa mesma noite nos amamos como se fosse a ultima vez, e uma voz que não queria ouvir lá no fundo me dizia que era a ultima vez. Naquela manhã eu acordei e olhei para o lado pronto para esboçar um sorriso, mas ela estava com os olhos vidrados no teto de madeira, meu deus Anne tinha morrido.
O enterro dela foi chuvoso, decidi enterrá-la embaixo da arvore onde tínhamos dando o nosso primeiro beijo, o padre dizia palavras mas eu não estava ouvindo, tudo que eu pensava era em como Deus tinha me abandonado  e levado minha pequena namorada junto com ele.Eu era o único  no enterro, pois eu era tudo que a órfã Anne tinha. Aquele dia foi terrivelmente sem sabor para mim, Anne estava morta e eu estava sozinho.  De repente me lembrei daquele verão quando tínhamos quinze anos, ela havia me feito jurar que estaria com ela para todo o sempre e que a seguiria a qualquer lugar que ela fosse naquela época Anne estava tão perfeita, que não havia sido problema fazer o juramento. Eu sai porta a fora da nossa antiga casa no Mississipi, e peguei minha linda Mercedes branca, o carro que ela tinha escolhido, e procurei um penhasco, por alguns minutos o carro apenas correu numa fração de segundos um frio na barriga, mas por fim eu estaria com ela para todo o sempre. 

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