E minha namorada desmaiou em meus
braços, eu não sabia o que ela tinha, mas estava claro que ela estava muito
doente, tentei não dar bola para aquilo e segui viajem. Depois de algumas horas tudo ficou muito mais
claro: Ela morreria. Olhei para ela por
alguns instantes, há minha doce Anne, seria uma pena vê-la em um caixão, pois
mesmo agora doente e aterradoramente
frágil, ela continuava sendo de uma beleza estonteante. Por fim chegamos a um hotel na beira da estrada,
eu a deitei naquela cama fétida e miserável que só um hotel de beira de estrada
poderia oferecer e a observei dormir, a respiração dela era regular e eu me
lembrei de momentos há muito tempo
esquecidos, de quando éramos crianças e brincávamos em nossos quintais no
estado do Mississipi, eu queria dizer à ela que depois de todos esses anos eu
havia finalmente descoberto o que eu
sentia por ela , e essa descoberta fora inerte e sem ar naquele quarto frio de
hotel. Ela continuava lá com seu sono irregular, parecia estar sonhando com
alguma coisa, eu ainda me lembrava de como havia conhecido ela, no primeiro
segundo que a vi fiquei intrigado com aqueles grandes olhos que pareciam duas
pérolas negras, eu apenas não entendo como ela tinha se apaixonado por algo tão
horrendo que era a minha existência, pois mesmo naquela época muitas a queriam;
Eu costumava chamá-la de lábios de chocolate, lembro-me também do meu primeiro beijo,
fora num verão embaixo de uma arvore que eu já não lembro o nome, ambos tínhamos
treze anos e a sensação de tocar aqueles lábios frescos pela primeira vez foi
tão espetacular que eu voltei para casa tremendo e fiquei extasiado por dias.
Ficamos no mesmo hotel semanas e
semanas, algumas vezes ela acordava e pedia por água, mas na maioria do tempo o
sono dela era tão profundo que eu temia que ela morresse sem eu perceber,
durante anos ela se jogara em meus braços jurando amor eterno, e naqueles
momentos eu apenas não sabia o que dizer, pobre Anne como ela devia ter sofrido
por aquilo, e mesmo depois de tanta indiferença o sorriso dela ainda era alegre
e esperançoso como se ela soubesse que algum dia eu diria algumas palavras de
conforto. Na noite de inverno em frente a lareira eu a desejava tanto, cada
parte do corpo dela era pra mim um lugar
misterioso e mágico e eu queria explorá-lo dia após dia. Mas agora ela estava
deitada imóvel naquela cama, eu passava o tempo a olhando e rezando para ela
melhorar, porque eu ela sempre fomos a igreja e eu não admitiria que Deus me
abandonasse naquela hora.
Numa noite sai pra fumar, habito
que ela havia insistido para que eu largasse, quando voltei ao quarto a
encontrei sentada na cama quente e sólida, como se nunca tivesse estado doente,
eu caminhei até ela devagar com lagrimas nos olhos, nas mãos ela tinha uma das
peças de Shakespeare, eu sabia que ela o adorava. Eu te amo Anne, eu disse bem
baixinho e ela me olhou como seu eu
tivesse dito aquilo a vida toda, quase sem voz ela me disse : Eu também te amo.
Nessa mesma noite nos amamos como
se fosse a ultima vez, e uma voz que não queria ouvir lá no fundo me dizia que
era a ultima vez. Naquela manhã eu acordei e olhei para o lado pronto para
esboçar um sorriso, mas ela estava com os olhos vidrados no teto de madeira,
meu deus Anne tinha morrido.
O enterro dela foi chuvoso,
decidi enterrá-la embaixo da arvore onde tínhamos dando o nosso primeiro beijo,
o padre dizia palavras mas eu não estava ouvindo, tudo que eu pensava era em
como Deus tinha me abandonado e levado
minha pequena namorada junto com ele.Eu era o único no enterro, pois eu era tudo que a órfã Anne
tinha. Aquele dia foi terrivelmente sem sabor para mim, Anne estava morta e eu
estava sozinho. De repente me lembrei
daquele verão quando tínhamos quinze anos, ela havia me feito jurar que estaria
com ela para todo o sempre e que a seguiria a qualquer lugar que ela fosse
naquela época Anne estava tão perfeita, que não havia sido problema fazer o
juramento. Eu sai porta a fora da nossa antiga casa no Mississipi, e peguei
minha linda Mercedes branca, o carro que ela tinha escolhido, e procurei um
penhasco, por alguns minutos o carro apenas correu numa fração de segundos um
frio na barriga, mas por fim eu estaria com ela para todo o sempre.