terça-feira, 28 de maio de 2013

Sensações

Levantei e o vi de relance perto da janela, me aproximei procurando algum indicio de que havia alguma coisa entre ele e eu. Ele me olhava sem piscar, o segui com olhos por alguns segundos e esses míseros segundos me pareceram anos, não consegui dizer nada , de repente um sentimento enorme de solidão tomou conta de mim. Sim eu estava sozinha ali.  Ele se ajoelhou e beijou minha coxa, senti a ponta do seu nariz roçar suavemente na minha pele, cada partícula do meu corpo estava em negação e eu continuei imóvel enquanto ele beijava minhas pernas e me olhava nos olhos.  A luz do sol no cabelo dele e as suas mãos na minha cintura, tudo aquilo me parecia irreal, nós não éramos quem deveríamos ser.
Acordei no meio do asfalto, o sol estava queimando minhas retinas, Como eu poderia ser eu naquele momento? Decididamente ele estava ali me alimentando com ilusões. O asfalto estava molhado e tudo que eu lembrava era de estar indo a um campo de rosas, fui pega de surpresa ele me mordeu com os lábios ardentes, senti os dentes dele furando meus lábios e não senti dor, apenas o gosto metálico de sangue que escorria meu pescoço. Tudo parecia extraordinariamente belo naquele ângulo. Ele agarrou-me os ombros com certo desespero, os lábios dele estavam manchados de sangues e eu não conseguia me lembrar de onde vinha toda aquela ansiedade, abracei-o e ele chorou, chorou tão imensamente que temi que seu corpo se desfizesse em meus braços, ele era tão pequeno e tão frágil que eu queria que ele ficasse pra sempre junto a mim. Nos deitamos no chão, o asfalto estava verde como a grama e o céu tinha mudado, ele apoiou a cabeça em meus seios e começou a orar uma dor aterradora começava a percorrer meus lábios, meus olhos se fecharam antes que ele pudesse terminar a prece percebi  como era bela a voz dele.
De repente a fumaça do cigarro começou a entrar pelos meus ouvidos, eu não conseguia entender porque estava fumando; ele já não estava comigo, temi ficar sozinha para sempre. Procurei entender porque eu estava ali, tudo me parecia incompleto e meu corpo estava se desfazendo como um pálido quebra- cabeça. A porta se abriu e ele entrou com um buquê de cravos, eu não sabia como os cravos cheiravam, mas um aroma delicioso percorria o quarto. Olhei para as parede, tudo estava branco e vazio, sem nenhum quadro, sem nenhuma foto , sem nada. Ele jogou os cravos no chão à minha frente, parei pra pensar em como ele estava sendo rudes, os cravos não eram para mim, eram pra ele. Uma das mãos dele estava em minha cabeça, eram cachos que eu via descendo em torno dos meus ombros. Murmurei algo para ele, ele não entendeu e embora as palavras tenham saído de mim, também não entendi, ele se abaixou encostando a testa na minha. Fechei meus olhos para ouvi-lo cantar, puxei os cabelos dele com força , gritei , ele também gritou. Meu grito foi de medo, o dele foi de dor. Ele estava me machucando por dentro, despedaçando minha alma, eu me agarrava com todas as minhas forças a aqueles momentos em que reinava a paz. Mas toda a paz acabava se queimando e tudo que eu podia fazer era engolir as cinzas.

Ele me encostou-se à parede e me despiu, minhas roupas estavam rasgadas no chão, ele explorava meu corpo com a língua e com as mãos enquanto eu explorava sua alma . Naquele momento éramos nada e éramos tudo, eu fiz tudo que eu podia para salva-lo, mas ele estava ali deitado no chão, me deitei em cima do corpo frio dele, um fio de cabelo estava entre os lábios dele. Pus um cravo em cima do peito dele e me deitei ao lado. As sensações, os sentimentos, estavam todos ali me avisando que eu não poderia ser mais que um mero ponto esquecido na vida dele, que eu não poderia ser mais do que eu era agora e que eu nunca seria mais que um sonho .

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