Levantei e o vi de relance perto
da janela, me aproximei procurando algum indicio de que havia alguma coisa
entre ele e eu. Ele me olhava sem piscar, o segui com olhos por alguns segundos
e esses míseros segundos me pareceram anos, não consegui dizer nada , de
repente um sentimento enorme de solidão tomou conta de mim. Sim eu estava
sozinha ali. Ele se ajoelhou e beijou
minha coxa, senti a ponta do seu nariz roçar suavemente na minha pele, cada
partícula do meu corpo estava em negação e eu continuei imóvel enquanto ele
beijava minhas pernas e me olhava nos olhos.
A luz do sol no cabelo dele e as suas mãos na minha cintura, tudo aquilo
me parecia irreal, nós não éramos quem deveríamos ser.
Acordei no meio do asfalto, o sol
estava queimando minhas retinas, Como eu poderia ser eu naquele momento? Decididamente
ele estava ali me alimentando com ilusões. O asfalto estava molhado e tudo que
eu lembrava era de estar indo a um campo de rosas, fui pega de surpresa ele me
mordeu com os lábios ardentes, senti os dentes dele furando meus lábios e não
senti dor, apenas o gosto metálico de sangue que escorria meu pescoço. Tudo
parecia extraordinariamente belo naquele ângulo. Ele agarrou-me os ombros com
certo desespero, os lábios dele estavam manchados de sangues e eu não conseguia
me lembrar de onde vinha toda aquela ansiedade, abracei-o e ele chorou, chorou
tão imensamente que temi que seu corpo se desfizesse em meus braços, ele era
tão pequeno e tão frágil que eu queria que ele ficasse pra sempre junto a mim.
Nos deitamos no chão, o asfalto estava verde como a grama e o céu tinha mudado,
ele apoiou a cabeça em meus seios e começou a orar uma dor aterradora começava
a percorrer meus lábios, meus olhos se fecharam antes que ele pudesse terminar
a prece percebi como era bela a voz
dele.
De repente a fumaça do cigarro
começou a entrar pelos meus ouvidos, eu não conseguia entender porque estava
fumando; ele já não estava comigo, temi ficar sozinha para sempre. Procurei
entender porque eu estava ali, tudo me parecia incompleto e meu corpo estava se
desfazendo como um pálido quebra- cabeça. A porta se abriu e ele entrou com um
buquê de cravos, eu não sabia como os cravos cheiravam, mas um aroma delicioso
percorria o quarto. Olhei para as parede, tudo estava branco e vazio, sem
nenhum quadro, sem nenhuma foto , sem nada. Ele jogou os cravos no chão à minha
frente, parei pra pensar em como ele estava sendo rudes, os cravos não eram
para mim, eram pra ele. Uma das mãos dele estava em minha cabeça, eram cachos
que eu via descendo em torno dos meus ombros. Murmurei algo para ele, ele não
entendeu e embora as palavras tenham saído de mim, também não entendi, ele se
abaixou encostando a testa na minha. Fechei meus olhos para ouvi-lo cantar, puxei
os cabelos dele com força , gritei , ele também gritou. Meu grito foi de medo,
o dele foi de dor. Ele estava me machucando por dentro, despedaçando minha
alma, eu me agarrava com todas as minhas forças a aqueles momentos em que
reinava a paz. Mas toda a paz acabava se queimando e tudo que eu podia fazer
era engolir as cinzas.
Ele me encostou-se à parede e me despiu, minhas roupas
estavam rasgadas no chão, ele explorava meu corpo com a língua e com as mãos
enquanto eu explorava sua alma . Naquele momento éramos nada e éramos tudo, eu
fiz tudo que eu podia para salva-lo, mas ele estava ali deitado no chão, me
deitei em cima do corpo frio dele, um fio de cabelo estava entre os lábios
dele. Pus um cravo em cima do peito dele e me deitei ao lado. As sensações, os sentimentos,
estavam todos ali me avisando que eu não poderia ser mais que um mero ponto
esquecido na vida dele, que eu não poderia ser mais do que eu era agora e que
eu nunca seria mais que um sonho .