quarta-feira, 15 de julho de 2015

Dialética

Sempre admirei as noites solitárias
e a falsa alegria em torno de tudo

         Invejei por algum tempo
         a mentira das paixões 
        e as amizades sem interesse 

                   A vida se revela misteriosa
                  Os dias são sempre óbvios 
                 as noites partem sozinhas
                pra algum lugar no infinito 

Tudo está morto
neste e naquele universo 
O tempo se move em espiral
miserável e contínuo
   

                           As verdades desmoronam
                           Os lábios se calam
                           Os olhos se fecham

As vidas se acabam pouco a pouco
e as  mentiras permanecem
sólidas 
imutáveis


sexta-feira, 10 de julho de 2015

Lábios de mel

Eu te encontro
Nos dias ensolarados


Teus lábios são de mel

Tua silhueta se mistura ao verde
Teu cheiro é de terra fresca

Eu me agarro em tua cintura
te laço um beijo
Me vejo nas nuvens
sempre

Teus lábios
 puro mel

Você canta
dança
me enfeitiça

Eu só quero beijos
tocar teus lábios
quentes e molhados
doces como mel


Versos sobre cansaço

Seu primeiro nome era Carla , e era também tudo que ela sabia sobre si mesma. 

Carla espreitava as ruas da periferia, sempre do avesso, sempre perdida. Carla não ligava para o mau tempo daquele dia ou de qualquer outro dia , sempre jogada nas ruas, ela não ligava pra nada. Suas roupas puídas colavam-se ao corpo,molhadas pelo fim de tarde mesmo assim ela não se dava ao trabalho de sentir frio, pois já não sentia nada.
Carla era mais que um nome de guerra. Carla era quem ela era por escolha própria e também por necessidade, Carla era a única realidade que ela conhecia e também a única coisa que ela podia inventar sobre si mesma.
Desde de muito cedo ela se lembra das mãos, não dos rostos, dos corpos ou dos cabelos, apenas das mãos a invadindo e desmontando. Ela também se lembra que houve um jardim, um pai e uma mãe e mais que cinco dentes em sua boca, se lembra de ter chorado , rezado e sentindo fome; mas essas coisas pareciam ter acontecido em outra vida.
Agora ela era apenas Carla, a noite nas ruas, dormindo marcada num quarto de pensão , era Carla indo de abrigo em abrigo , comendo comida fria de madrugada.
Era Carla, suja, suada e letárgica. Percorrendo as ruas de uma cidade grande demais pra ela.
Era sempre Carla, só Carla.
Cansada demais pra se defender

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sobre o Silêncio

Te amo
Como se ama de madrugada
No silêncio dos lençois
com as luzes apagadas
e a pele pedindo carinhos

O vento bate na janela
eu te procuro em manhãs frias
Em todas elas
procuro seu olhar na multidão inexistente

Faço amor com as pontas dos dedos
meus lábios queimam
te chamam

Teu amor é cruel
Prolonga meus dias
Confunde minhas horas
meus sentidos

Teu corpo
Teu olhar
Me erram de madrugada

Quero apenas você
que se aninhe entre minhas pernas
e sussurre segredos misteriosos

Que você me acaricie
até que a noite se torne dia
Que as roupas fiquem no chão
e que nossos corpos se tornem abrigo um do outro


Permanência

Eu estou apaixonada
imensamente apaixonada por ela
Não sei aonde essa paixão vai me levar
Já é difícil dizer de onde ela veio

Sinto que eu ela
já trilhamos os mesmo caminho
diversas vezes

E sempre paramos aqui
estagnas no mesmo lugar
como duas rochas
Que um dia estiveram nas montanhas
E agora só conhecem a terra plana do fundo do mar

Sempre estivemos aqui
eu e ela
Nossa paixão nunca ardeu
Pois é uma chama que se queimou sozinha
e o vento levou as cinzas

Mas ela é bela
como as ondas iluminadas num dia de sol
E ela real
como a divindade que habita o coração dos homens


Eu a quero
e esse querer me dói na alma
A paixão existe
nela eu trilhei meu caminho


Nossas almas não se tocam
jamais se tocaram
Apenas permanecem
frias
Caladas
Sem tomar consciência
da presença uma da outra